
Tô com mania de escrever carta, não sei por que e nem pra quem. Talvez este desejo seja mais para ser escutado do que propriamente o de falar alguma coisa. Escrevo para alguém, sempre uma morena de cabelos lisos, olhos brilhantes e andar leve, e eu acho que nem exista ou talvez nem seja mulher, escrevo a esmo e não publico, escrevo muito e até me canso, escrevo o meio o fim o torvo, escrevo como quem quer gritar a alguém, como quem quer berrar calado, ou talvez nem ser ouvido, escrevo como quem está desesperado, exasperado, inesperado. Escrevo como se fosse a última vez, como uma alma desconfortável dentro de um corpo bem menor ou até mesmo como se não fosse nada. Escrevo, é o que me resta, é o que eu tenho e é o melhor que eu faço, rabisco letras que se juntam e criam formas, e depois de feito eu mesmo me contradigo escrevendo mais em sentido oposto. Eu gosto do latim, gosto de flor do Lácio e Sambódromo eu gosto da língua.
Escrevendo eu sigo como quem rabisca no braço, pois escrevo no corpo, na vida, na história para que me perca. Como quem escreve torto por linhas retas.