terça-feira, 20 de outubro de 2009

Flor do Lácio, Sambodromo

Tô com mania de escrever carta, não sei por que e nem pra quem. Talvez este desejo seja mais para ser escutado do que propriamente o de falar alguma coisa. Escrevo para alguém, sempre uma morena de cabelos lisos, olhos brilhantes e andar leve, e eu acho que nem exista ou talvez nem seja mulher, escrevo a esmo e não publico, escrevo muito e até me canso, escrevo o meio o fim o torvo, escrevo como quem quer gritar a alguém, como quem quer berrar calado, ou talvez nem ser ouvido, escrevo como quem está desesperado, exasperado, inesperado. Escrevo como se fosse a última vez, como uma alma desconfortável dentro de um corpo bem menor ou até mesmo como se não fosse nada. Escrevo, é o que me resta, é o que eu tenho e é o melhor que eu faço, rabisco letras que se juntam e criam formas, e depois de feito eu mesmo me contradigo escrevendo mais em sentido oposto. Eu gosto do latim, gosto de flor do Lácio e Sambódromo eu gosto da língua.

Escrevendo eu sigo como quem rabisca no braço, pois escrevo no corpo, na vida, na história para que me perca. Como quem escreve torto por linhas retas.

Elementar meu caro Rouanet

Tenho dito a algum tempo sobre os novos rumos da cultura brasileira, desde que o independente passou a mover seus próprios meios, ou seja, andar com as próprias pernas tornou-se o segredo do sucesso. A sede de cultura do nosso país e a falta de planejamento cultural para os mais abastados não foram com certeza os achaques para que Sérgio Paulo Rouanet ministro da cultura do governo Fernando Color criasse a então Lei de Incentivo Cultural Rouanet que prevê o estímulo de empresas e indivíduos que pretendem financiar projetos culturais, tendo em vista a redução do imposto de renda de 60 a 100% do valor investido. Os projetos desde espetáculos, livros ou discos de bandas foram se tornando fundamentais para que o independente surgisse, talvez esse seja o principal ponto para o fim da exploração que as editoras e as gravadoras mantinham, mas é claro que esse foi o inicio do por mim denominado Assistencialismo Cultural, onde os produtores e as empresas dependem da lei como forma de repasse da verba, com o único objetivo de abatimento dos impostos. Este abatimento, de acordo com os projetos que as empresas financiarem, na reforma da lei, o governo não quer que as empresas escolham os projetos que desejam patrocinar, e isso é uma grande contradição e um erro abrupto. O mais intrigante é que esses projetos já não são mais qualquer um desde que cultural, a literatura, por exemplo, não é sequer comentada na nova Rouanet e o único incentivo à literatura é o “Vale-Cultura” como um vale alimentação para a compra de livros, discos e ingressos de espetáculos. Embora o choque só veio ao perceber que ninguém tenha tocado no assunto nem nas discussões do ministro Juca Ferreira e nem as pessoas que escrevem diariamente no site do MinC, a palavra Literatura não é sequer comentada quando escrita na busca Ctrl+F. A literatura passa a ser excluída do vocabulário da cultura nacional até por que um país não é mais feito com homens e livros como dizia Monteiro Lobato. É por isso que temos mais discotecas que bibliotecas segundo o português Valete. Para bom entendedor, um pingo é um pingo e pronto!


Rodrigo Mendonça